A invenção do Ballet Clássico e Contexto Histórico




A invenção do Ballet Clássico

A evolução da técnica da dança clássica foi de responsabilidade de um homem: Charles-Louis- Pierre de Beauchamps (Pierre Beauchamp (Versalhes, 30 de outubro de 1631 – Paris, fevereiro de 1705) foi um coreógrafo, bailarino e compositor da França, e um dos diretores da Academia Real de Dança.) O mestre de Beauchamps foi uma espécie de principal coreógrafo da França. Quase todas as grandes produções tiveram um toque seu, principalmente as da corte. Ele colocou em prática um "sistema de dança", que, de acordo com os ideais de Luís XIV, tendia à beleza das formas, à rigidez, ao virtuosismo, que valorizava a estética do corpo, demonstrando o quanto que a estética do movimento, naquela época, era mais importante que a emoção que o gerou. Assim, houve uma intensa profissionalização dos bailarinos e de outros profissionais ligados à dança.



A técnica era quase tudo. Beauchamps, se apropriou dos passos do Ballet de Corte transformando-os, lapidando-os até chegar em produtos que são conhecidos atualmente: os entrechats (entrechatquatre, entrechatcinq, etc.), o grand-jeté, o pas de bourré. Além disso, ele também estabeleceu as 5 posições básicas, como formas de se aproximar ou afastar os pés numa distância proporcional e medida. Sua intenção era descobrir uma maneira certa para que o corpo do bailarino encontrasse sempre o seu eixo e o equilíbrio, estando ele dançando ou parado. Dessa forma, o mestre criou uma forma de se "escrever" o ballet, a partir da nomenclatura que deu aos passos formais de sua autoria.

Um outro grande contribuidor da dança clássica foi Moliére. Primeiramente um produtor de espetáculos de teatro, Moliére adotou a dança em suas montagens e logo passou a criar suas conhecidas comédias-ballet, que eram, em sua essência, um Ballet de Corte com algumas novidades, mas que ainda usava récita de versos em sua trama. Uma das diferenças era o tema, pois Moliére rompeu com o tédio causado pela utilização da mitologia grega. Suas histórias eram uma pintura dos costumes, como as comédias que conhecemos atualmente. Na realidade, a maior inovação das comédias-ballet está na integração total da dança com a ação dramática. Se antes, nos Ballets de Corte, a dança servia para "enfeitar" o enredo, com Moliére a dança tem um porquê de estar no meio da ação. Em quase todas as obras, Jean Baptiste de Lully foi seu parceiro, e quando se separaram mais tarde, Lully produziu espetáculos que não passavam de remontagens de peças de Moliére e do Mestre de Beauchamps. Lully acabou realizando um movimento contrário ao da época, pois suas remontagens diminuíam a importância da dança em relação aos outros elementos do espetáculo. Assim, ele contribuiu com a longa sobrevivência do Ballet de Corte, onde a dança não era o principal elemento.
Nessa mesma época, em meados do século XVII, surgiu uma outra figura importantíssima para a dança: a senhorita Lafontaine, conhecida como a primeira bailarina a dançar sozinha.

A evolução no século XVIII

Em 1713, foi fundada a escola de dança da Academia Real. Havia um regulamento que impunha que os diretores escolhessem os melhores súditos e ensinassem para eles gratuitamente sua técnica. Sem dúvida, a criação da escola colaborou para o aprimoramento técnico da dança, mas por outro lado contribuiu para a monotonia que foi gerada pelo apego ao movimento e o esquecimento da emoção que ele exprime. Havia uma rotina na escola que se fixava ainda mais no virtuosismo puro.



Nessa época, surgiram estudiosos que desejavam escrever a dança. Eles criaram uma espécie de partitura, onde os nomes dos passos, símbolos e desenhos são escritos paralelamente às notas musicais. Nos livros onde foi "escrita" a dança, também oram catalogados novos passos: relevés, tombés, glissés, diversos tipos de pequenos saltos, cabrioles, coupé (que não era igual ao coupé de hoje) contratempos, chassés e sissones. Obviamente, o desenvolvimento da nomenclatura e da escrita da dança clássica facilitou o ensino e ampliou o aprendizado da dança. Mas os coreógrafos não adotaram a técnica da escrita, e por isso, ao contrário do que aconteceu com a música, não é possível reproduzir um ballet assim como ele foi concebido. Havia uma certa resistência à escrita: segundo um famoso maitre de ballet da época, "A coreografia escrita apaga a genialidade".

Foi a partir desses pequenos avanços que surgiu a dança acadêmica, a técnica clássica definida, que é a mesma técnica que conhecemos hoje, apesar das mudanças e influências sofridas nesses dois séculos.



A Ópera Ballet

 Na primeira metade do século XVIII, entra em cena na França a ópera-ballet, que realizou o inverso dos ballets anteriores. Nas comédias-ballet, a dança está a serviço do enredo, da música, e dos outros elementos. Já na ópera-ballet, todos os elementos estão subordinados à dança e servem para conduzi-la. Era praticamente uma peça inteiramente cantada e dançada. O enredo, porém, era extremamente fraco, não havendo uma trama ou história propriamente dita, com início, meio e fim. Personagens mitológicos voltaram a ser usados, porém viviam como se fossem mortais, quase sempre passando por aventuras amorosas.

A ópera-ballet herdou dos ballets de côrte a cenografia e as vestimentas pouco adequadas. As roupas cobriam  todo o corpo e inclusive o rosto: as máscaras eram amplamente utilizadas, de forma que não trabalhavam a expressão facial. O figurino era sempre pesado e incômodo, quase incompatível com a dança leve e elevada, mas, no entanto, a técnica era bem menos rigorosa que a atual.